Carta de repúdio à Reitoria da UNESP
São José do Rio Preto, 27 de outubro de 2014.
A/C da reitoria da UNESP, São Paulo.
Ao reitor em exercício:
Ao reitor em exercício:
Caro reitor Julio Cezar Durigan, te escrevo em perspectiva: histórica e internacional.
Em 2006, no
México, diante da política de repressão do governo de Vicente Fox, o jovem
Alexis Benumea foi assassinado em uma manifestação estudantil com uma bomba de
gás lacrimogênio que estourara em sua cabeça no povoado de San Salvador Atenco. Uma repressão de vingança por parte do Estado
governado por Fox, que, assim como você, implementava políticas de repressão
aos movimentos sociais para a reafirmação do projeto que ambos defendem: o
liberalismo.
Neste ano de 2014, mais de 40 estudantes normalistas foram entregues para execução pelas tropas
policiais no México. Foram fuzilados e queimados. Uma parceria entre o Estado e
governo da cidade de Iguala (estado
de Gerreiro no sul do mesmo país),
repressores aos que resolvem lutar. Aqui observo mais uma fina sintonia entre
você e as autoridades mexicanas: se utilizam da polícia para “debater” diretos e permanência
estudantil.
Estes apontamentos são demonstrativos de uma política
repressora e assassina que procura se fundamentar em um campo jurídico
correspondente aos interesses da política que nitidamente você é
correligionário: o liberalismo. Trata-se de uma política internacional e não
algo regionalizado, cercado apenas em determinadas localidades mexicanas.
Poderia citar centenas de outros exemplos (Pinheirinho no Brasil; Camponeses no
Paraguay; Estudantes no Chile; Estudantes na Argentina; etc).
No Brasil, em relação ao Estado de São Paulo, certamente
você é um dos intelectuais orgânicos fundamentais para a implementação do
projeto liberal no que diz respeito a educação. E isso se relaciona as
repressões e violações diversas que constata-se internacionalmente.
Evidentemente, você como reitor, é apenas mais um lacaio do
povo trabalhador que ocupa um cargo definido na História do tempo presente. Entretanto,
mesmo sendo apenas um peão das grandes corporações, um serviçal do estado
burguês, possui, fenomenicamente, um papel importante: de ser parte dos
adestradores dos cães que guardam os portais do inferno. E nisso você parece
ser bem refinado. Aplica perfeitamente os métodos repressores àqueles que
resolveram não baixar a cabeça e que lutam por melhores condições de existência
na UNESP.
Sua habilidade de negociação me parece refinada para os
princípios democráticos do capitalismo, ou seja, olha, vê, oprime e reprime os
que lutam e para isso não vacila em se utilizar de táticas policiais e
jurídico-ditatoriais. Mais uma vez: fina sintonia com a política internacional
de repressão aos movimentos sociais organizados para implementação do
sucateamento e privatização do sistema de ensino!
Meus alunos lutam para poderem comer e morar como ponto
central de suas demandas! Veja isso grande agrônomo: se alimentar e dormir dignamente!
Observe, caso não consiga, que se trata de demandas
puramente animais diante da terra. Qualquer pássaro necessita disso, qualquer
jabuti precisa comer todos os dias... Ou será que você discorda desta lei
natural?
Entretanto as leis que regem a vida social vão para além
das determinações naturais. Meus alunos possuem outras necessidades, assim como
os seus filhos e netos. Eles necessitam de transporte, segurança, livros, além
de potássio, cálcio e fósforo diuturnamente! Mas é evidente que você disso já
sabe.
E, mais uma vez, reafirmando o seu papel de lacaio dos meus
alunos, você se coloca como agente da repressão. Isca seus cães fardados para
cima de jovens que lutam por permanência estudantil, que buscam o diálogo e que
ocupam sim, quando ignorados, pois trata-se de lutas legítimas de sobrevivência
na universidade pública que eles, os seus pais e toda a população financia
através da taxação imposta pelo Estado que você serve!
Em troca de lutar pela educação pública no Estado de São
Paulo meus alunos recebem a repressão!
Foram quase 100 alunos sindicados e uma punição ancorada em
normatizações da ditadura militar-empresarial dos anos 70 que truculentamente
tenta impor 60 dias de suspensão aos estudantes, onde perderão as bolsas
miseráveis que recebem (que ainda assim é furto de muitas lutas) para se
formarem intelectualmente!
Será que você conseguiria viver com o equivalente geral de
valor que meus alunos sobrevivem? Te desafio a viver uma só semana com menos
400 reais. Promova isso aos seus filhos e netos, tenho certeza de que até eles
ocupariam a reitoria do lacaio!
Todos nós sabemos Sr. Durigan que esta medida punitiva é a
mais clara determinação de expulsão da universidade, pois você se utiliza do
regimento da ditadura para fazer meus alunos não permanecerem na universidade
(que não é sua!). Todos nós sabemos que a suspenção é uma forma de retirar as
bolsas que os alunos possuem para se manterem na universidade; que sem as
bolsas se torna insustentável a permanência estudantil! Por isso mesmo você
recorre a esta medida para promover o acirramento daquilo que meus alunos
lutam: a permanência estudantil com dignidade! Você lança mão de táticas
fascistas de repressão política!
Outro ponto importante: o documento publicado oficialmente
fala de invasão. Invasão quem pratica é o invasor. Meus alunos são alunos da
UNESP! Portanto são unespianos em um espaço que também é seu! Aquilo que te
pertence se ocupa, não se invade!
Assim como os militares você se utiliza de uma normatização
repressora para fundamentar juridicamente a política de repressão ao movimento
estudantil. Trata como inimigo da universidade os seus partícipes, como se
fossem estrangeiros da sua regência política na UNESP.
Repudio o seu posicionamento e exijo a revogação de todos
os processos aos alunos que desejam e lutam por uma universidade de qualidade e
para os trabalhadores!
Repudio as táticas fascistas que apregoa e executa contra
os lutadores!
Repudio o projeto político liberal que você defende com
balas e bombas!
Repudio a terceirização e todo processo de privatização da
universidade pública!
Repudio a sua gestão e todas as suas deliberações
opressivas e de exploração dos trabalhadores e estudantes!
Repudio sua regência e exijo a sua renuncia imediatamente!
Pela continuidade da
construção da luta organizada de trabalhadores e estudantes!
Por uma Universidade
pública sob o controle dos trabalhadores, já!
Pela união da classe
oprimida e explorada internacionalmente!
Jean
Paulo Pereira de Menezes
Docente contratado temporariamente
(há mais de 2 anos!) da UNESP de Marília
e São José do Rio Preto.
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